Athayde era menino
Quando tudo aconteceu,
Pés queimados pelo asfalto
E o vigor que Deus lhe deu.
Ia à rua c’uns moleques
Naquela mesma manhã,
Mas a mãe ficou doente,
“Filho, deixa pra amanhã”.
“Tudo bem, mamãe, eu fico”,
É o que um bom filho diria,
Já Athayde era teimoso,
Queria porque queria.
A mãe só tinha esse filho,
O pai já estava no céu.
Tinha ido se encontrar
Com o outro filho, Léo
Naquela manhã de vento,
Caminhando devagar,
Athayde foi pra rua,
E sua mãe no sofá.
Chamou todos os vizinhos
E aprontaram, toda a gente.
Maior sonho de Athayde
Era farra eternamente.
Naquela manhã de riso
Foi futebol com latinha,
Foi corrida, pique-pega
E paquerar menininha.
Na casa daquele velho
Tinha um grande pé de manga,
Um pequeno de acerola
E dois ou três de pitanga.
Junto c’os outros garotos,
Athayde pulou o muro,
Mas na hora de cair,
Foi joelho no chão duro.
O velho acabou ouvindo,
E foi saindo de casa.
Os meninos, sem esforço,
Saíram, na gargalhada.
Athayde foi de apoio,
Também conseguiu sair.
Todo o grupo, na calçada,
Estava sentado a rir.
Foi quando viram na esquina
Uns caras estranhos, grandes.
Alguns viraram na deles,
Nunca foram vistos antes.
Os outros meninos fugiram;
Athayde não podia.
Na esquina era sua casa,
Onde sua mãe dormia.
Naquela manhã de festa,
Athayde ouviu um disparo.
Queria correr depressa,
Com o joelho machucado.
Não deu tempo de chegar,
Os bandidos já saíram.
Com dinheiro, entre outras coisas,
Foram pr’um carro e sumiram.
Naquela manhã de horror,
Athayde entrou em casa
Invadido pelo choro;
Sua amada mãe sangrava.
Ele correu pros seus braços,
Ela fez sua partida:
“Athayde, meu menino,
Boa sorte nessa vida”.
Acabou assim, tão rápido.
Athayde ficou mudo;
Agora, sem sua mãe,
Ele estava só no mundo.
Naquele dia de mágoa,
Athayde sentiu um peso.
De uma manhã de alegria
Surgiu seu triste começo.
E Athayde foi crescendo,
Athayde era da rua,
Athayde se virava,
Pois a vida continua.
Autora: Wlange Keindé
Contato: wlangekeinde@gmail.com
Blog: http://pensamentosquasediarios.blogspot.com.br/
Concurso: 3º Concurso de Poesia da Fundação José Francisco de Sousa - 2014
Organização: Fundação José Francisco de Sousa
Classificação: 8º lugar na categoria Cordel
Quando tudo aconteceu,
Pés queimados pelo asfalto
E o vigor que Deus lhe deu.
Ia à rua c’uns moleques
Naquela mesma manhã,
Mas a mãe ficou doente,
“Filho, deixa pra amanhã”.
“Tudo bem, mamãe, eu fico”,
É o que um bom filho diria,
Já Athayde era teimoso,
Queria porque queria.
A mãe só tinha esse filho,
O pai já estava no céu.
Tinha ido se encontrar
Com o outro filho, Léo
Naquela manhã de vento,
Caminhando devagar,
Athayde foi pra rua,
E sua mãe no sofá.
Chamou todos os vizinhos
E aprontaram, toda a gente.
Maior sonho de Athayde
Era farra eternamente.
Naquela manhã de riso
Foi futebol com latinha,
Foi corrida, pique-pega
E paquerar menininha.
Na casa daquele velho
Tinha um grande pé de manga,
Um pequeno de acerola
E dois ou três de pitanga.
Junto c’os outros garotos,
Athayde pulou o muro,
Mas na hora de cair,
Foi joelho no chão duro.
O velho acabou ouvindo,
E foi saindo de casa.
Os meninos, sem esforço,
Saíram, na gargalhada.
Athayde foi de apoio,
Também conseguiu sair.
Todo o grupo, na calçada,
Estava sentado a rir.
Foi quando viram na esquina
Uns caras estranhos, grandes.
Alguns viraram na deles,
Nunca foram vistos antes.
Os outros meninos fugiram;
Athayde não podia.
Na esquina era sua casa,
Onde sua mãe dormia.
Naquela manhã de festa,
Athayde ouviu um disparo.
Queria correr depressa,
Com o joelho machucado.
Não deu tempo de chegar,
Os bandidos já saíram.
Com dinheiro, entre outras coisas,
Foram pr’um carro e sumiram.
Naquela manhã de horror,
Athayde entrou em casa
Invadido pelo choro;
Sua amada mãe sangrava.
Ele correu pros seus braços,
Ela fez sua partida:
“Athayde, meu menino,
Boa sorte nessa vida”.
Acabou assim, tão rápido.
Athayde ficou mudo;
Agora, sem sua mãe,
Ele estava só no mundo.
Naquele dia de mágoa,
Athayde sentiu um peso.
De uma manhã de alegria
Surgiu seu triste começo.
E Athayde foi crescendo,
Athayde era da rua,
Athayde se virava,
Pois a vida continua.
Autora: Wlange Keindé
Contato: wlangekeinde@gmail.com
Blog: http://pensamentosquasediarios.blogspot.com.br/
Concurso: 3º Concurso de Poesia da Fundação José Francisco de Sousa - 2014
Organização: Fundação José Francisco de Sousa
Classificação: 8º lugar na categoria Cordel