FISIOLOGIA DA DECIFRAÇÃO (Poesia de Danilo Augusto)

(sobre motivos de João)

5.

Insisto em certos poemas,
Empresas perpétuas.

No dia sossegado
(Limpa escrivaninha)
Essa árdua tarefa desterra
O germe fecundo
(Pelo tempo que decompõe
Também os prazos)

Que na noite
(Hora onde germinará
O verso lido)
Frutificará: Musa
Silenciosa palavra
Contra o barulho de todos


6.
Não a forma difundida
Como a peste, repetida
Na desolada terra
Como fungos;

Não a forma encontrada
Em um lance de dados
Nas normas traçadas
Do produzível;

Mas a forma atingida
Como o gume de uma faca
Que a solidão, sozinha,
Abriga

Lâmina; com o mais agudo
Fio que rompe; a carne
Afogada na superfície das coisas
Inúmeras.


7.

É digital o byte
Armazenado e depois
Decodificando em uma linha
Que dificilmente será poesia

São digitais
As flores e as plantas
Quando rodeiam este texto
Da mesmíssima substância

É digital
A linha dos rostos
E será outra coisa
Que a digital do nosso rosto

É digital, por fim,
Qualquer informação:
Sobre outra linha ainda
Não decodificada, a distante

Natureza da palavra


8.

Cultivar o poema
Como um texto às avessas.

(A palavra fabrica
A alma, único grão
A alma forjada
Reluz, pérola!

Enquanto na norma
Do outro texto
A palavra constrói
Castelos de areia.)

Cultivar o poema
Como um texto às avessas

Quando nada mais
Fabrica; apodrece
Onde foi pérola;
A concha morta

Onde foi alma
(Sereias ou musas
Desvairadas) resta o polido
Vazio da palavra

* Referência ao poema “Psicologia da Composição” de João Cabral de Melo Neto







Autor: Danilo Augusto de Athayde Fraga - 2012
Contato: danilodeathayde@gmail.com

Concurso: I Concurso Universitário Latino-americano de Literatura
Organização: UFVJM - Diretoria de Relações Internacionais
Classificação: 3ª Lugar

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