DA JANELA (Crônica de Marlene da Silva Leal)

Recentemente visitei uma amiga que se mudou para Copacabana. Ela estava entusiasmada com o bairro, por causa das facilidades que este oferece. Disse-me que é só pegar o elevador e descer para comprar o pãozinho fresco, as frutas, os remédios e o que é melhor: Ter a praia próxima. Isso sem falar na diversão noturna. Tem mais barzinho do que esquina. Nada melhor do que sentar à tardinha para jogar conversa fora degustando um quitute de botequim ou tomar água de coco no calçadão de pedras portuguesas mais famoso do mundo.

Quando cheguei ao andar em que morava, ela abriu a porta e os braços para me receber.

Entrei passando os olhos em tudo que via atestando o bom gosto da decoração do pequeno flat. Nada mal para uma pessoa que pretende morar sozinha. Tudo muito prático e “clean”.

Porém, ao chegar à janela dei de cara com muitas outras janelas abertas expondo suas intimidades. Corri os olhos disfarçadamente por dentro de algumas e constatei a naturalidade com que as pessoas transitavam sem cerimônia em trajes sumários, sem nenhum pudor, como se estivessem num reality show natural. Estavam ali para serem vistas. Raros apartamentos com as cortinas cerradas.

Voltei-me para dentro ao perceber que estava sendo observada por um senhor. O olhar de reprovação que me lançou desencorajou-me a permanecer na janela.

Minha amiga fazia um café convidativo e enquanto espalhava o aroma soltava mil palavras para contar como fora feita a mudança. Conversa vai, conversa vem por algumas horas até que resolvi ir embora antes do horário do rush.

Enquanto dirigia o sol ainda teimava em refletir seus raios nas nuvens de algodão no céu do Aterro. Vinha pensando como era bom chegar à casa e contemplar da minha janela as árvores frutíferas do vizinho, onde bem-te-vis, bicos- de- lacre, rolinhas, beija-flores, pardais, viuvinhas, borboletas, morcegos e até um casal de gaviões carijós desfilam aos nossos olhos enfeitando o que resta da Natureza, neste bairro de subúrbio.
Um abacateiro, duas bananeiras, uma goiabeira, duas mangueiras, uma jaqueira e pasmem: Um pau-brasil com mais de nove metros.

Não sou dona do verde que posso contemplar do meu apartamento, mas o visual me pertence até que um dia , quem sabe, a especulação imobiliária chegue até aqui e me roube esse prazer de chegar à janela sem constrangimento.







Autor: Marlene da Silva Leal
Contato: marleneleal0212@oi.com.br

Concurso: Concurso de Crônicas Foed Castro Chamma - 2012
Organização: Academia de Letras Artes e Ciências do Centro Sul do Paraná (ALACS)
Classificação: Menção honrosa

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