PODE, ARNALDO! (Crônica de Maurício Fregonesi Falleiros)

Há muito ela desconfiava das atitudes do marido. Ele, como todo homem, não convencia a mulher com suas desculpas mal improvisadas:
            – Isso são horas, Arnaldo?
            – Desculpa, amorzinho. É que roubaram o carro do Paulão, então eu tive que dar uma carona pra ele.
            – Mas isso é motivo pra chegar às 2 horas da manhã?
            – É que roubaram o meu carro também!
            – Sei...
            – Te juro! Aí eu e o Paulão tivemos que correr atrás do bandido, pegar o carro de volta na marra e só depois eu levei ele embora. Que sufoco...
            – E o carro do Paulão?
            – Ah, ele tem seguro...
            – Mas que aventura, hein? Ó, tem comida em cima do fogão, você esquenta. Eu vou dormir.
            E assim as desculpas se sucediam. Uma pior que a outra. Uma menos convincente que a outra. Mas de uma coisa Agrinalda já tinha se convencido: o marido tinha uma amante. Só faltava descobrir quem era a sirigaita.
            Ela pensou em contratar um desses detetives bem canastrões, mas logo mudou de ideia. Ela não era mulher de pagar detetive para vigiar o marido. Ela própria iria colar no safado.
            Em um dia aparentemente normal, uma quarta-feira qualquer, Agrinalda estacionou o carro a uma quadra do trabalho de Arnaldo. Esperou ele sair e, com muita discrição, saiu no encalço do marido. Hoje era dia de festinha, ele não tomara o rumo de casa.
            Pouco depois Arnaldo chegou ao destino. Aquela casa não era estranha para ela. Quando a anfitriã botou a cara na rua, tudo ficou claro:
            – A amante dele é a Suzy, a minha manicure? Eu não acredito. É traição dupla!
            Agrinalda abaixou-se no banco do carro para não ser vista e se pôs a pensar. O que ela faria? Desceria do carro e das tamancas? Daria na cara dos gaiatos e pediria o divórcio no meio da rua? Voltaria para casa e colocaria o marido contra a parede?
            No final das contas não fez nada disso. Preferiu voltar para casa e deixar tudo como estava. Ninguém arrancava aquelas terríveis cutículas dos seus pés como a Suzy.
            Esperou o casal entrar e foi embora. Tinha horário marcado na sexta.







Autor: Maurício Fregonesi Falleiros
Contato: mauricioffalleiros@gmail.com
Blog: viciocronico.wordpress.com

Concurso: VI Concurso Literário de Presidente Prudente - 2012
Organização: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Presidente Prudente
Classificação: Seleção para publicação

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