Como é comum em muitos casais de longa data, eles jantavam praticamente em silêncio. Estava mais fácil encontrar recheio num pastel de vento do que acontecer um diálogo naquela mesa. E isso já tinha virado rotina.
Fosse o jantar em uma simples cantina italiana ou até mesmo em um charmoso bistrô francês, não importava. O assunto não surgia. Durante a noite toda, o máximo que se ouvia eram os burocráticos “Já escolheu?”, “Vamos pedir?”, “Vamos embora?”.
É claro que Lucinda não se conformava com aquilo. Mas como tudo na vida, ela já tinha se acostumado com a situação e simplesmente não dizia nada ao marido. Nem cobrava nem reclamava. E olha que isso é muito difícil para qualquer mulher.
Somente quando essa pasmaceira chegou à sala de jantar do casal é que ela resolveu tomar uma atitude. Para Lucinda, era inadmissível que em sua própria casa ela não pudesse ter míseros 5 minutos de atenção de Tadeu, seu esposo de pouquíssimas palavras. E ela não estava disposta a exercer seus dotes teatrais realizando um monólogo.
A gota d’água foi num sábado, em meio a um bobó cheio de camarão, sua especialidade. Ao perceber que o marido não arriscara um mero elogio, um simples “Hum, amor. Mas que delícia.”, ela esbravejou:
– Fala alguma coisa, Tadeu! Não aguento mais ficar na mesa olhando pra sua cara e você não falando nada, não puxando assunto. Tá cansado do casamento? Fala agora. Senão vai ser pior depois.
Ele, sem mudar de feição, respondeu:
– Ô, Lucinda. Passa o sal, que esse bobó tá meio sem graça. Você tem errado na mão na hora de temperar, hein?
Ela não acreditou no que ouviu. Ele tinha criticado o seu bobó cheio de camarão, a sua especialidade, na sua frente. A vontade era de errar a mão na cara do ingrato. Mas ela pensou bem e preferiu não responder ao marido. Viu que o casamento estava melhor quando o Tadeu não falava nada.
Autor: Maurício Fregonesi Falleiros
Contato: mauricioffalleiros@gmail.com
Blog: http://viciocronico.wordpress.com/
Concurso: 1º Concurso Literário da AMLAC - 2011
Organização: AMLAC - Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências - SP
Classificação: 3º Lugar
Fosse o jantar em uma simples cantina italiana ou até mesmo em um charmoso bistrô francês, não importava. O assunto não surgia. Durante a noite toda, o máximo que se ouvia eram os burocráticos “Já escolheu?”, “Vamos pedir?”, “Vamos embora?”.
É claro que Lucinda não se conformava com aquilo. Mas como tudo na vida, ela já tinha se acostumado com a situação e simplesmente não dizia nada ao marido. Nem cobrava nem reclamava. E olha que isso é muito difícil para qualquer mulher.
Somente quando essa pasmaceira chegou à sala de jantar do casal é que ela resolveu tomar uma atitude. Para Lucinda, era inadmissível que em sua própria casa ela não pudesse ter míseros 5 minutos de atenção de Tadeu, seu esposo de pouquíssimas palavras. E ela não estava disposta a exercer seus dotes teatrais realizando um monólogo.
A gota d’água foi num sábado, em meio a um bobó cheio de camarão, sua especialidade. Ao perceber que o marido não arriscara um mero elogio, um simples “Hum, amor. Mas que delícia.”, ela esbravejou:
– Fala alguma coisa, Tadeu! Não aguento mais ficar na mesa olhando pra sua cara e você não falando nada, não puxando assunto. Tá cansado do casamento? Fala agora. Senão vai ser pior depois.
Ele, sem mudar de feição, respondeu:
– Ô, Lucinda. Passa o sal, que esse bobó tá meio sem graça. Você tem errado na mão na hora de temperar, hein?
Ela não acreditou no que ouviu. Ele tinha criticado o seu bobó cheio de camarão, a sua especialidade, na sua frente. A vontade era de errar a mão na cara do ingrato. Mas ela pensou bem e preferiu não responder ao marido. Viu que o casamento estava melhor quando o Tadeu não falava nada.
Autor: Maurício Fregonesi Falleiros
Contato: mauricioffalleiros@gmail.com
Blog: http://viciocronico.wordpress.com/
Concurso: 1º Concurso Literário da AMLAC - 2011
Organização: AMLAC - Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências - SP
Classificação: 3º Lugar
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